PIZZA era geralmente o cardápio para uma reunião maior da família, agradava a todos, era mais fácil de fazer e consumir, nem era preciso se sentar a mesa e isso também fazia parte do que nós crianças mais gostávamos, a informalidade.
Um domingo de PIZZA era um domingo mágico, em todos os sentidos, e enquanto meus irmãos ficavam lá fora brincando com os primos eu preferia acompanhar passo a passo dessa maravilhosa aventura gustativa.
Começava numa grande mesa, larga e comprida o bastante para misturar, sovar, abrir, colocar todos os ingredientes, do recheio a própria massa, era belo ver as linguiças, queijos, presunto, ovos, pimentões, a água num grande jarro, a farinha grossa num saco de papel pardo.
Não era uma mesa do dia a dia, ela ficava nos fundos do quintal debaixo de um plástico, era uma mesa de reunião de família e isso já era parte da diferença, a mesa do encontro, a mesa de todos os Olivieris.
Trés tios e meu pai a traziam para a frente, para perto da cozinha, a limpavam e as mulheres começavam a sua dança milenar de encantar e eventualmente cantar enquanto preparavam tudo.
Pouco a pouco tudo que seria preciso vinha a mesa, em latas ou em copos, em pratos e travessas, de todas as formas e tamanhos, cada convidado trazia sua parte como uma orquestra bem preparada.
E por fim meu avô trazia o garrafão de azeite do antigo empório e aquele verde-vivo lindo era a lembrança da nossa essência além mar.
Uma das coisas que eu mais gostava era quando minha avó pegava um copo simples, de vidro, enchia com água e colocava uma pequena bolinha de massa nele, que afundava e parecia grudar no fundo, mas que, no tempo certo de descanso, subiria indicando que já poderia ser aberta.
Ela colocava o copo na janela e eu ficava atenta as pequenas bolhas que se formavam no fundo e subiam, até que num momento toda a bolinha era suspensa, como se a força do meu desejo a tivesse trazido a tona, nesse momento batia palmas.
Ver diversas mulheres, de gerações diferentes, com pequenos rolos, debruçadas vigorosamente sobre as bolas de massa, esticando, puxando, abrindo, dando a forma centenária ou milenar, conhecida, era meu balé italiano.
E minha tia sempre cantava, musicas antigas e novas, todas misturadas, com aquele brilho de satisfação de quem já havia passado muita privação, de todos os tipos, e que sabia valorizar a abundância de uma boa mesa.
Enquanto isso os homens cortavam e fritavam diversos ingredientes, geralmente na própria banha do acondicionamento, e vegetais, como abobrinha e pimentão que minha avó tirava da própria horta e tinha um odor tão pronunciado que eu já pressentia como seria o gosto.
Muitas das minhas boas memórias estão ligadas ao alimento, o fazer a comida em família ou entre amigos, naquela época comemorava-se por comer, era o reconhecimento da oportunidade de permanência, pessoal e familiar.
Comprar uma pizza pronta, congelada e embalada num plástico, nem passava pela cabeça de alguém que isso algum dia seria possível, e se passasse talvez fosse algo repulsivo, cozinhar era um encontro, a comida era uma mágica, comer era uma festa.
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