quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mil palavras

Assisti hoje o filme "As mil palavras" com Eddie Murphy, um filme altamente recomendado pela minha melhor amiga Mara.

Apesar do tom de comédia tem uma mensagem profunda, facilmente captada pelas pessoas com mais experiencia de vida.

Quantas milhares de palavras dizemos no dia a dia, semanas, meses, anos, da nossa vida, sem realmente qualquer significado.

Palavras para preencher o tempo, o vazio, a conversa morna e sem direção, palavras que quebram o gelo.

Palavras que realmente não precisam ter sentido, são mais como murmúrios guturais para não cair no silêncio, assustador, silêncio.

Palavras até que não entendemos, acreditamos, aceitamos, que tem mais a ver com o momento ou a companhia, que não são realmente nossas, mas de um contexto em que desejamos nos inserir.

Tem também as palavras dúbias, maliciosas, capciosas, maldosas, envenenadas, doloridas, nojentas, que falamos, tal qual um vomito, carregadas do mau sentir, do não pensar, do estar em conflito.

E nessa sociedade verborrágica, que grita mercadorias, nos aponta necessidades, que fofoca sobre a vida alheia, julga, diz do tempo, do imposto, dos políticos, do ultimo crime, que reza em bom e alto som, falamos muito e muito daquilo que não conhecemos, não vimos, nem entendemos, mas falamos e assim estamos inseridos.

Outro dia, num dos terminais de ônibus, fiquei observando um grupo de surdos-mudos conversando com a linguagem de sinais, discutiam, questionavam, até mesmo gritavam, com as mãos, com todo o corpo. 

O som não é necessário para ter palavras pensei eu, conversar parece ser inerente a natureza humana.

E pelas palavras nos mostramos, contradizemos, imitamos, barganhamos, expomos, aceitamos, revelamos, escondemos, as palavras são até mesmo ferramentas de tortura, humilhação, descrédito, mentiras.

As palavras viraram um jogo humano, 90% das vezes sem qualquer significado real além do fluxo do falar.

Quanta gente nega amar quando o coração esta pedindo aconchego?

E aqueles que dizem que "Não tem nada a dizer!" quando estão explodindo por dentro?

Então por todo filme vemos Eddie Murphy falar e falar, verborragia pura, besteiras, jogo de palavras, até que finalmente percebe o peso daquilo que faz, cada palavra contém uma parte de sua vida, é melhor ficar atento ao que diz.

No final, poucas palavras lhe restando, ele finalmente diz aquelas que são preciosas, verdadeiras, significativas para sua vida, aceita até mesmo sua morte e consegue se sentir confortável com seu próprio silêncio, então renasce.

É interessante notar quanto usamos as palavras para trazer coisas de fora, dinheiro, reconhecimento, amizade e confiança das pessoas, usando as palavras como um outdoor de si mesmo, sem saber exatamente quem é esse que fala e o que essa pessoa deseja.

Por muito tempo eu me cansei do jogo das palavras e percebi que o silêncio não é ausência de som mas muito mais a ausência do desejo.

Quisera que por toda minha vida apenas mil palavras me bastassem, seriam ótimas palavras, muito bem selecionadas

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O momento certo


Muitas pessoas não conseguem encerrar um ciclo - casamento, trabalho, amizade, atividade profissional, hábitos, religião - distendem o tempo de algo que não esta mais sendo satisfatório, produtivo, positivo, necessário. 

E de repente, amarrados a uma coisa que antes era boa e passou a ser difícil, eles se sentem frustrados, tristonhos, bloqueados, negativos, esperando magicamente que algo mude, algo de fora, algo que não esta ao seu alcance.

Como pode o que antes era magia se tornar chatice? E o que era surpresa mergulhar no obvio?

Coisas que acontecem. Caminhando para a frente muda a paisagem, seus personagens, o clima, o que buscamos, quase tudo muda quando estamos vivos, menos a vontade meio absurda de que tudo sempre continue igual.

Não tem como rebobinar a vida e prolongar uma sequência. Dar um pause então nem pensar, quem acha que consegue esta fugindo da verdade - TUDO MUDA!

Quando as coisas "vão da gente" parece mais fácil, foi despedido, o namoro acabou, a padaria de sempre fechou, o amigo casou, o dono pediu a casa, mudou o horário de verão, doí mas está além da nossa escolha, é o que imaginamos, foi a força, não optamos.

Mas quando precisamos encerrar uma situação, fechar um ciclo, fazer novas opções, as pernas tremem, dá enxaqueca, dores no peito, insônia, medo do vazio, de ficar sem nada, de ter tomado o caminho errado e depois não poder consertar o dano.

Tem gente que mantém o emprego que odeia, alias se aposenta nele, não muda de carreira mesmo sentindo que não tem nada mais a ver com ele, sonha com algo mais criativo, aquela coisa que dá gosto levantar da cama de manhã para fazer, mas fica só no sonho.

Tem gente que vai na mesma igreja, templo, casa religiosa, grupo fraternal, de sempre, tudo sempre igual, mesma hora, mesmo dia, tentando sentir uma coisa que não sente mais, achando que esta fazendo algo muito errado, culpa do encosto, do mundo, da imperfeição humana.

E aquele/a que sonha em conhecer o mundo mas acaba comprando uma casinha por aqui mesmo para pagar em 30 anos?

E tem coisa pior do que acordar todo dia ao lado de alguém que se tornou mais estranho e distante do que um extraterrestre, mas mesmo assim continuar casado com essa pessoa, envelhecendo ali, sem carinho, similaridade, prazer, nada para partilhar?

Coisa de louco esse medo de seguir em frente! 

Coisa de ser humano que lá no fundo sabe que seguindo em frente lá na frente, bem na frente, tem, é claro, a morte, aquela da qual ninguém nunca fugiu.

Tentamos domar o tempo domando nossas escolhas. 

O momento certo de ir embora deveria ser ensinado na escola, do pré-primário até a faculdade, mestrado e doutorado também. 

O momento certo de largar a bola vermelha e deixar o amiguinho brincar.

O momento certo de dizer para um amigo que prefere não ir com ele ao cinema assistir mais um filme épico que você tanto odeia e depois ir no bar tomar umas cervas que você não suporta.

O momento certo de fechar o livro sagrado e dar um tchau para aquele grupo que foi maravilhoso no momento que você chegou mas que se tornou sufocante depois de alguns anos.

O momento certo de dizer "NÃO POSSO MAIS!" para a companheira, namorado, noiva, paquera.

O momento certo de pedir a dispensa depois de uma férias no trabalho, ou de mudar de atividade, quando se é o próprio patrão, até mesmo mudar de cidade, país, talvez até ir trabalhar num daqueles navios de cruzeiros, aproveitando seu inglês fluente.

Tenho uma amiga que é massagista, não tem mais a quantidade de clientes que tinha a alguns anos atrás, alias não tem mais clientes, as coisas ficaram difíceis, o dinheiro sumiu, mas mesmo assim ela continua a insistir, telefonar, fazer propaganda, buscar culpados no movimento do mercado, na desvalorização da profissão, ali, na mesma, perdendo e perdendo mais a cada dia.

O momento certo de ir embora é crucial, ele faz toda a diferença entre a ação e o drama, evita que algo se torne mais pesado e complicado do que já é, magoa menos ou não magoa, dá menos prejuízo, é mais sincero, não funde a cabeça e a vida da pessoa.

Então antes de continuar o seu esforço para manter algo muito difícil, complicado, delicado, exigente, cansativo, desgastante, alucinante, pense se não é o momento certo de ir embora....A VIDA CONTINUA!!