quarta-feira, 3 de junho de 2015

Desacelere


Sexta feira, dentro da biblioteca do Senac, ouço um celular tocar.
Na mesa ao lado, um jovem atende afobado, começa uma conversa animada e banal, mas algo que ele não poderia se esquivar, afinal o celular tocou.
O que poderia ser tão importante que precisaria ser atendido prontamente?
Pouca coisa eu suponho, nenhuma noticia triste, o rapaz falava com um amigo, alguém que vê todos os dias, que talvez encontre em alguns minutos, mesmo assim era preciso atender o celular na biblioteca.
E como posso observar a minha volta, parece muito importante e necessário atender o celular no cinema, durante um jantar em família, no ônibustáxi, metro, até mesmo enquanto toma banho.
Não, eu não sou contra o celulares, os acho muito práticos, eles permitem que qualquer um nos encontre em qualquer momento, tornando cada momento da nossa vida o momento do outro.
Mas parece que cada vez mais tememos o momento intimo,  onde estamos "apenas estudando", "apenas almoçando com a família", "apenas assistindo um filme", "apenas lavando louça" .
Hoje cada minuto tem que ser aproveitado em múltiplas tarefas, precisamos estar conectados ao mundo, a todo mundo, seja ao celular ou computador ou o que mais se inventar.
É importante realizar muitas coisas, quantidade não qualidade, possuir o desnecessário, saber sempre o que esta acontecendo por aí, do mais trivial ao mais horripilante, assistir, provar, palpitar.
Por que simplesmente sentar num banco de jardim e ficar de olhos fechados sentindo a brisa? Seu notebook esta quebrado?
E almoçar em silêncio, sem ler jornal, sem ver tv, sem ficar mandando mil mensagens de texto no celular, sem conversar sobre o que acontece nos BBBs da vida? Esta de mau humor? Brigou com os amigos?
Experimentar a vida como se degusta um vinho, com calma, provando cada parte de forma plena, parece coisa de velho, de gente que não aceita a modernidade, que não sabe a extrema necessidade de postar mais uma foto na pagina pessoal, dar "aquele" ok para o pensamento do amigo do amigo.
No mesmo Senac reparei que uma arvore muito antiga, que foi transformada numa escultura por estar seca, tinha um pequeno broto surgindo.
Enquanto olhava maravilhada a vida que se recompõe, pessoas passavam desapercebidas, entretidas pela musica do fone de ouvido, mensagens do celular ou apenas a conversa ruidosa.
Imaginei que aquele broto poderia estar ali, muito consciente, olhando para todos nós e perguntando - Tem alguém ai?