quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

TRANSMUTAÇÃO


Quando somos magoados, afrontados, machucados, sacudidos, a primeira reação é de auto defesa, levantamos uma barreira, nos fechamos, usamos do escarnio, afastamento, desprezo e até da violência.


É muito mais fácil responder a violência com violência, então ampliamos a energia da violência recebida/sofrida, aumentamos num ato ainda mais violento, maligno, detestável, para calar nosso "oponente".


Nos deliciamos em pensar na pessoa má sendo punida e sofrendo muito, imaginamos que aquele que vive da dor alheia merece essa dor multiplicada em si mesmo, o dedo da consciência humana apontada para ele ou ela.


Malhar o Judas é tão bom, libera a energia do nosso lado que sofre calado, que engole o sapo venenoso que a muito esta intoxicando a civilização, o pequeno que toma a tunda do grande e nada parece poder fazer.


Nós queremos que o bem vença o mau no final, precisamos acreditar nisso, mas geralmente esse bem vem numa outra forma, as vezes na mesma pulsação intensa que o mau, só que por mãos que julgamos corretas.


Mas quando uma bola é arremessada em grande velocidade e quica na parede ela volta exatamente para nós, em nosso rosto, na nossa vida, assim é quando vibramos violência mesmo que seja para uma aparente justiça.


Se estamos na mesma pulsação os campos se interpenetram se tornando uma unica coisa, ruim, grande, que vai engolindo toda a vida, toda a beleza, a suavidade, bondade e amor, não é possível curar o mau com o mau, é apenas uma barreira temporária.


A lei não conseguirá erradicar a maldade, nem a punição, nem mesmo a morte, pois ela continua dentro de nós, ainda faz parte da nossa natureza, inferior, e mesmo quando achamos que a estamos usando para um bom caminho é uma ferramente viciada e viciante, que deturpa tudo.


Receber o mau e não pulsar com violência é MUITO DIFÍCIL, mas é o único verdadeiro caminho para que ele não seja alimentado, porque esse dragão, o mau, não é exatamente alimentado por mas pessoas, muitas vezes as boas pessoas lhe dão de comer.


Já presenciei diversos atos de extrema violência, e em todas as vezes eu me posicionei abominando quem assim procedia, mas senti muita raiva, e assim a violência voltou para mim, mantida pela minha energia.


É natural sentir raiva dizem as pessoas, somos humanos.


Discordo disso.


Em muitas épocas foi natural ter escravos, em outras era natural fazer sexo com crianças ou animais, envenenar os inimigos, já foi natural e ainda é em alguns lugares matar uma criança por ser do sexo feminino.


Muitas coisas que julgamos absurdas já foram muito natural, mas agora já não são, e isso se chama EVOLUÇÃO, é quando nos desprendemos de mais uma porção de insanidade, crendice, medo anímico e usamos a razão que dizem existir na nossa especie.


A violência não erradicará a violência, o grito do mau só silenciará quando ele não estiver mais no nosso coração, no bom coração, porque quando a violência surge no coração, não importa porque e de quem, ele fica contaminado pelo mau e tudo mais se torna isso.


Esse agora tem sido meu exercício, receber o mau, a violência, o absurdo, e não responder mentalmente na mesma frequência, não deixar que ele se espalhe em meu coração o tornando solitário, frio e descrente da vida.


Não quero mais imaginar a pessoa que enterrou um cão vivo sendo enterrada viva e morrendo engasgada com terra, não quero entrar no circulo vicioso de idealizar a pessoa que matou e comeu uma criança sendo cortada em pedacinhos.


Não quero mais alimentar a violência deles em mim, porque isso não permite erradicar a violência no mundo, a minha raiva se torna uma caixa onde o mau pode encontrar abrigo e ainda se manter vivo para sair um dia.


Quando sou açoitada pela violência, pelo mau escuro, pegajoso e denso, eu não o reconheço, eu não permito que minha mente entre nesse buraco, absorva a raiva e outros sentimentos que existem nele.


Esse é o exercício de redenção, que pode dissolver a escuridão e malignidade, começando em mim, naquela parte minha que vibra quando alguém perverso sofre, que deseja a dor do estuprador e do assassino.


É claro que não consigo ainda vibrar com amor, isso esta a centenas de anos luz a minha frente, mas não me permitirei mais vibrar na mesma frequência daquilo que abomino e nego, neste momento abro meu coração para a vida, outra vida, sem dor, sem violência, sem revanche.