Assisti hoje o filme "As mil palavras" com Eddie Murphy, um filme altamente recomendado pela minha melhor amiga Mara.
Apesar do tom de comédia tem uma mensagem profunda, facilmente captada pelas pessoas com mais experiencia de vida.
Quantas milhares de palavras dizemos no dia a dia, semanas, meses, anos, da nossa vida, sem realmente qualquer significado.
Palavras para preencher o tempo, o vazio, a conversa morna e sem direção, palavras que quebram o gelo.
Palavras que realmente não precisam ter sentido, são mais como murmúrios guturais para não cair no silêncio, assustador, silêncio.
Palavras até que não entendemos, acreditamos, aceitamos, que tem mais a ver com o momento ou a companhia, que não são realmente nossas, mas de um contexto em que desejamos nos inserir.
Tem também as palavras dúbias, maliciosas, capciosas, maldosas, envenenadas, doloridas, nojentas, que falamos, tal qual um vomito, carregadas do mau sentir, do não pensar, do estar em conflito.
E nessa sociedade verborrágica, que grita mercadorias, nos aponta necessidades, que fofoca sobre a vida alheia, julga, diz do tempo, do imposto, dos políticos, do ultimo crime, que reza em bom e alto som, falamos muito e muito daquilo que não conhecemos, não vimos, nem entendemos, mas falamos e assim estamos inseridos.
Outro dia, num dos terminais de ônibus, fiquei observando um grupo de surdos-mudos conversando com a linguagem de sinais, discutiam, questionavam, até mesmo gritavam, com as mãos, com todo o corpo.
O som não é necessário para ter palavras pensei eu, conversar parece ser inerente a natureza humana.
E pelas palavras nos mostramos, contradizemos, imitamos, barganhamos, expomos, aceitamos, revelamos, escondemos, as palavras são até mesmo ferramentas de tortura, humilhação, descrédito, mentiras.
As palavras viraram um jogo humano, 90% das vezes sem qualquer significado real além do fluxo do falar.
Quanta gente nega amar quando o coração esta pedindo aconchego?
E aqueles que dizem que "Não tem nada a dizer!" quando estão explodindo por dentro?
Então por todo filme vemos Eddie Murphy falar e falar, verborragia pura, besteiras, jogo de palavras, até que finalmente percebe o peso daquilo que faz, cada palavra contém uma parte de sua vida, é melhor ficar atento ao que diz.
No final, poucas palavras lhe restando, ele finalmente diz aquelas que são preciosas, verdadeiras, significativas para sua vida, aceita até mesmo sua morte e consegue se sentir confortável com seu próprio silêncio, então renasce.
É interessante notar quanto usamos as palavras para trazer coisas de fora, dinheiro, reconhecimento, amizade e confiança das pessoas, usando as palavras como um outdoor de si mesmo, sem saber exatamente quem é esse que fala e o que essa pessoa deseja.
Por muito tempo eu me cansei do jogo das palavras e percebi que o silêncio não é ausência de som mas muito mais a ausência do desejo.
Quisera que por toda minha vida apenas mil palavras me bastassem, seriam ótimas palavras, muito bem selecionadas
Nenhum comentário:
Postar um comentário