A muito tempo o ser humano deseja que pudesse existir uma linguagem comum entre todos os seres do planeta, imagina ele que esse idioma o tornaria mais sensível, útil e respeitoso com a natureza e disso viria grande fartura e paz.
Animais, vegetais, minerais não seriam mais habitantes estranhos e de difícil significação, se transformariam em parceiros, amigos, aliados no processo de melhorar a vida e salvar o planeta.
Barreiras seriam rompidas, barreiras do medo, duvida, nojo, distancia, e maravilhados com o completo entendimento de toda vida, seriamos novamente remetidos ao paraíso, onde existia uma única linguagem.
Assim o ser humano idealiza seu mundo perfeito, sem entender que essa voz, essa via de comunicação já existe, sempre existiu, fomos nós que a perdemos, nos distanciamos dela assim como nos distanciamos daqueles da nossa própria espécie.
Então por que não conseguimos ouvir agora a instrução do vento?
O canto da montanha?
A sabedoria dos pássaros, baleias, flores, pedras, arvores, lobos, mar?
Se todos eles continuam a falar entre si, se cada um deles manteve sua capacidade de dialogo, por que estamos surdos a isso?
Talvez seja porque ouvimos noite e dia apenas o ruído da nossa mente, pensamentos, medos, lembranças, desejos, conflitos, expectativas, duvidas, cobranças, afirmações.
Nossa percepção esta contida, presa, limitada a pequena caixa, a mente, que sem cessar, em monólogos, nos afasta da percepção do todo, ela se diz "nós", afirma ser a única a indicar o caminho e compreender a essência de tudo.
Essa mente, falsa mente, essa conversa de vozes imaginárias, as vozes do ego, dos egos dos egos, dos egos de tantos egos que já viveram a nossa volta, esse espelho da confusão do ser humano.
Essa mente não é o raciocínio, não é também nossa consciência, não é tampouco nossa essência, não é nada a não ser inúmeras idéias que planam a nossa volta a muitos e muitos anos, a educação da separação.
Nem sabemos mais onde começa os outros e termina o eu, não percebemos o que vem do nosso corpo, da nossa própria percepção e o que é introjetado pela necessidade de normalização, cultura do igual.
Esse ruído incessante existe a tanto tempo que já nos acostumamos, pouco percebemos que ele se colocou acima de todas as vozes do mundo, calando-as, a começar pela voz do nosso próprio coração e assim o conhecimento da natureza.
Esse ruído estranho nos convenceu que é a voz dos seres humanos, sua própria essência, a mente que tudo vê, entende, cria, fonte de percepção, raciocínio e evolução.
Esse amontoado de normas, conselhos, obrigações, ordens, ponderações, acusações, credos, regras, dedos apontados em alguma direção, mapa da existência humana.
No entanto nunca sairemos do mesmo lugar porque não estamos em lugar algum, no mundo da mente parecemos ter substância e direção, no mundo real estamos paralisados e presos num labirinto interior.
Alguns perceberam isso e por alguns minutos conseguiam subtrair os ruídos e ouvir o canto da vida, mas voltavam sempre ao estágio dos barulhos intermitentes, ao turbilhão do desejar, idealizar, sofrer, planejar.
Era preciso sair da mente, como um salto no vácuo, no escuro, um portal para outra dimensão, assim nasceu a meditação.
Meditar não é criar uma mente tranquila, é separar aquilo que não é nosso, que é da circunstância, momento, vivência, grupo, do que é realmente nosso e que esta além desse ambiente caótico que vivemos.
A meditação diária, constante, abre um espaço entre as tantas coisas que captamos, mas não assimilamos, um espaço que será preenchido por sons que não podíamos ouvir pelos excessos da mente, sons que nos remetem ao Ser Universal.
Conseguimos então olhar através do acumulo de estímulos e sensações, atravessar as regiões da ambivalência e dor, encontrar um local pacifico e seguro em meio ao caos que antes estava ali.
Num dado momento, entre o nada e a quietude, passamos a escutar a voz da vida que canta em tudo, de um dente de leão a uma rã, de uma nuvem aos raios de sol, de uma gota de chuva a uma galinha, de uma mosca a um pedra.
Percebemos que a voz de toda vida não é feita de um idioma racional, numérico, gráfico, coloquial, mas sim tátil, sensitivo, olfativo, vibrátil, e que é preciso estar em nosso corpo, plenamente, de todas as formas, e não somente na mente para perceber isso.
Assim que o ser humano sair de sua caixa-mente, assim que se liberar da ilusão do pensamento, a linguagem de todos os seres que habitam esse planeta não sera mais um mistério, estaremos vibrando na mesma frequência.
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