quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

TRANSMUTAÇÃO


Quando somos magoados, afrontados, machucados, sacudidos, a primeira reação é de auto defesa, levantamos uma barreira, nos fechamos, usamos do escarnio, afastamento, desprezo e até da violência.


É muito mais fácil responder a violência com violência, então ampliamos a energia da violência recebida/sofrida, aumentamos num ato ainda mais violento, maligno, detestável, para calar nosso "oponente".


Nos deliciamos em pensar na pessoa má sendo punida e sofrendo muito, imaginamos que aquele que vive da dor alheia merece essa dor multiplicada em si mesmo, o dedo da consciência humana apontada para ele ou ela.


Malhar o Judas é tão bom, libera a energia do nosso lado que sofre calado, que engole o sapo venenoso que a muito esta intoxicando a civilização, o pequeno que toma a tunda do grande e nada parece poder fazer.


Nós queremos que o bem vença o mau no final, precisamos acreditar nisso, mas geralmente esse bem vem numa outra forma, as vezes na mesma pulsação intensa que o mau, só que por mãos que julgamos corretas.


Mas quando uma bola é arremessada em grande velocidade e quica na parede ela volta exatamente para nós, em nosso rosto, na nossa vida, assim é quando vibramos violência mesmo que seja para uma aparente justiça.


Se estamos na mesma pulsação os campos se interpenetram se tornando uma unica coisa, ruim, grande, que vai engolindo toda a vida, toda a beleza, a suavidade, bondade e amor, não é possível curar o mau com o mau, é apenas uma barreira temporária.


A lei não conseguirá erradicar a maldade, nem a punição, nem mesmo a morte, pois ela continua dentro de nós, ainda faz parte da nossa natureza, inferior, e mesmo quando achamos que a estamos usando para um bom caminho é uma ferramente viciada e viciante, que deturpa tudo.


Receber o mau e não pulsar com violência é MUITO DIFÍCIL, mas é o único verdadeiro caminho para que ele não seja alimentado, porque esse dragão, o mau, não é exatamente alimentado por mas pessoas, muitas vezes as boas pessoas lhe dão de comer.


Já presenciei diversos atos de extrema violência, e em todas as vezes eu me posicionei abominando quem assim procedia, mas senti muita raiva, e assim a violência voltou para mim, mantida pela minha energia.


É natural sentir raiva dizem as pessoas, somos humanos.


Discordo disso.


Em muitas épocas foi natural ter escravos, em outras era natural fazer sexo com crianças ou animais, envenenar os inimigos, já foi natural e ainda é em alguns lugares matar uma criança por ser do sexo feminino.


Muitas coisas que julgamos absurdas já foram muito natural, mas agora já não são, e isso se chama EVOLUÇÃO, é quando nos desprendemos de mais uma porção de insanidade, crendice, medo anímico e usamos a razão que dizem existir na nossa especie.


A violência não erradicará a violência, o grito do mau só silenciará quando ele não estiver mais no nosso coração, no bom coração, porque quando a violência surge no coração, não importa porque e de quem, ele fica contaminado pelo mau e tudo mais se torna isso.


Esse agora tem sido meu exercício, receber o mau, a violência, o absurdo, e não responder mentalmente na mesma frequência, não deixar que ele se espalhe em meu coração o tornando solitário, frio e descrente da vida.


Não quero mais imaginar a pessoa que enterrou um cão vivo sendo enterrada viva e morrendo engasgada com terra, não quero entrar no circulo vicioso de idealizar a pessoa que matou e comeu uma criança sendo cortada em pedacinhos.


Não quero mais alimentar a violência deles em mim, porque isso não permite erradicar a violência no mundo, a minha raiva se torna uma caixa onde o mau pode encontrar abrigo e ainda se manter vivo para sair um dia.


Quando sou açoitada pela violência, pelo mau escuro, pegajoso e denso, eu não o reconheço, eu não permito que minha mente entre nesse buraco, absorva a raiva e outros sentimentos que existem nele.


Esse é o exercício de redenção, que pode dissolver a escuridão e malignidade, começando em mim, naquela parte minha que vibra quando alguém perverso sofre, que deseja a dor do estuprador e do assassino.


É claro que não consigo ainda vibrar com amor, isso esta a centenas de anos luz a minha frente, mas não me permitirei mais vibrar na mesma frequência daquilo que abomino e nego, neste momento abro meu coração para a vida, outra vida, sem dor, sem violência, sem revanche.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Essencial

Se sofre por tanta coisa !!


Como sofre a humanidade por coisas tão "desimportantes" e relativas, coisas que alias só passaram a ter significado e valor na vida delas a partir da própria crença, antes disso nada valiam, nem existiam, eram apenas lenda.

A opinião de estranhos; um padrão assimilavel; uma imagem irretocavel; um conhecimento inatingivel; estar "por dentro" de inumeras questões; ter aquele padrão desejado por uma maioria ficticia; não parecer velho - alias conseguir não envelhecer; ter aquele objeto ultimo tipo - de marca, alta tecnologia; ser um sucesso sempre; ser "fodão" - nem sei ao certo a dimensão disso; estar num relacionamento amoroso; não parecer bobo/a; ser um sucesso....e por ai vai uma lista de coisas que criam ansiedade, nos fazem sofrer e nem paramos para analisar porque.

O ESSENCIAL, aquela coisa de ter uma casa para morar, comida para comer, amigos, mesmo pouco, pernas, pés, mãos, enxergar, força e saúde para trabalhar e ir em frente e mais, estar num meio ambiente com água, sol, fertilidade, plantas nascendo aqui e acola, frutas, ervas, passarinho.

A idéia do essencial foi sendo corrompida até chegarmos ao essencial de ter um celular com internet, um notebook com tela sensível a toque, um carro que chega a 300 km por hora e pelo menos uns 10 cartões de crédito.

E sofremos, e tanto, por coisas que foram sendo incultidas na mente com muita manipulação e propaganda, abaixando a auto estima até o dedão do pé e colocando lá em cima o valor das coisas, criando uma cultura baseada no Ter, não somos nada a não ser o que Temos, nosso próprio valor se confunde ao que possuimos de objetos, bens materiais.

Mas não basta chegar a tudo isso, precisamos nos manter, precisamos que todos saibam que somos os melhores, que valemos mais, e ai se sofre também para ser desejado, invejado, admirado e continuar assim.

A vida sem sofrimento parece uma coisa inventada, de mentira, a vida tem que ter luta, cara de pedinte, aborrecimento, briga, tristeza, drama, desentendimento e enfrentamento, apesar de tanta fartura, apesar de tanta loucura e das mentiras também, ao menos 90% não é essencial para nossa vida.

Tudo que precisamos já estava aqui, nem fomos nós que criamos, já temos o essencial, o primordial para viver, mas para ver isso, para estar nisso agora é preciso força, fé, carater, confiança e determinação.






PELO FIM DO SOFRIMENTO ! PELO FIM DA ENGANAÇÃO !!!!






Viva o essencial !!



terça-feira, 15 de março de 2011

Voce é de "Raça" ?


TER RAÇA é ter respeito pelos animais, honrando nossa atitude a milhares de gerações quando os tiramos da natureza.

Lidar de forma determinada e consciente com o bicho - castrando, imunizando, protegendo e provendo seu sustento.

Enxergá-los como SERES VIVOS e não bibelos, objetos, ferramentas, armas, produtos, coisas as vezes amadas e em outras um estorvo a se livrar.

É nunca dizer "É apenas um cachorro!" ou "É um animal!" para ludibriar e dar a permissão para fazer os mais grotescos e crueis atos.

É saber que como animais, assim como nós, eles sentem, pressentem, sofrem, esperam e buscam apoio, segurança e proteção.

Ter a plena consciência que eles sentem dor, tristeza, fome, frio, depressão, medo, desconforto, mesmo se entregando aos seres humanos, esperançosos e confiantes.

Ser de "RAÇA" é nunca ter a atitude de ir a sua igreja e templo, fazer suas preces, buscando "seu melhor" e esperando receber grandes benefícios, deixando para trás seu cão no sol forte ou na garoa, sem abrigo, sem nem olhar a vasilha de água.

E existem aqueles que chutam cachorros, queimam gatos, enforcam ratos, cortam as asas de passarinhos, assim como o bico das galinhas, cegam macacos e cortam a pele de outros bichos, em nome do divertimento, necessidade ou "ciência".

Esses não são de "RAÇA", estão apenas estudando a tal ciência do serial killer.

Ter "RAÇA" enfim é ter o mesmo amor e senso de sacralidade com todas as coisas que neste planeta estão, do mesmo jeito que quem o fez teve.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O prazer das "cousas"



Ontem tive uma daquelas oportunidades especiais que o acaso nos traz.

Enquanto esperava o atendimento moroso no hospital pude receber instruções de uma sabia, essas que ainda estão no planeta, envelhecidas e por vezes estarrecidas com o teor das mudanças.

Sentei ao seu lado, um tanto preocupada por alguém tão idosa parecer estar sozinha.

Pessoas iam e voltavam e ela tão calma, segurando seu copinho de água, então ao me olhar viu que eu tentava escrever algo num papel mas a caneta falhava e calmamente puxou uma bic da sua pequena bolsa de fuxico.

"É uma caneta, comum, mas executa muito bem a tarefa para a qual foi criada!", me disse, e eu me surpreendi com seu tom de voz, a escolha das palavras, a forma como se expressava e por alguns minutos fiquei quieta segurando a caneta.

Ela pareceu compreender meu aparente espanto e continuou "Eu tenho 87 anos, nasci antes da caneta, mesmo lápis era um luxo".

"No entanto agora uma caneta precisa fazer muito mais do que escrever, essa caneta tão simples não serve para meus netos e bisnetos, porque ela apenas escreve"

"Assim eles me disseram : se tem caneta que acende e ilumina, diz as horas, apaga o que escreveu errado, tem calendário, cheiro de frutas e até escreve de cabeça para baixo, porque ter uma caneta que só escreve !"

"Minha filha, no meu tempo as cousas eram cousas, eramos nós que lhe dávamos significado, agora as cousas precisam dar prazer, nos fazer feliz, ser cada vez melhor, porque senão ninguém compra"

Seu nome é Maria Assumpção Cabral, tem 87 anos, foi professora de português, literatura, francês, leu os clássicos, filosofia, poesia, e agora esta aqui, ao meu lado, num mundo irreconhecível e empobrecido.

" A partir do momento que precisamos que tudo nos traga felicidade e prazer não conseguimos mais aceitar a dor, o esforço, o dever, a dificuldade, os obstáculos, a simplicidade, abrir mão de alguma coisa pelos outros"

"No meu tempo se estudava para acrescentar algo na vida, não porque ia ganhar dinheiro com isso, você lia porque isso ia burilar sua mente e seu espirito, como um diamante."

E segurando a caneta eu pensava que também era do tempo que as coisas eram simplesmente coisas e que o valor de cada um era dado por quem a pessoa era, como vivia, o que fazia, suas crenças.

"As cousas agora precisam dar prazer porque tudo é muito fácil, estudar, trabalhar, falar com os parentes, viajar e com tanta facilidade ninguém suporta nada difícil e que precise de paciência e tempo".

E ai logo surgiu um parente, falando que ela devia parar de chatear as outras pessoas, que estava demorando muito e iam embora, voltavam depois, etc e tal.

Ela me deixou a caneta com uma ultima recomendação "não fuja do esforço, não se intimide com as dificuldades, porque o prazer das cousas é pequeno, as cousas duram pouco, só o que lutamos para conseguir nos transforma".

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O poder do NÃO


Dizer NÃO se tornou algo complicado nos dias de hoje.
E me refiro aquele NÃO que precisamos dizer aos filhos, aos amigos, parentes, colegas de serviço, pais.
Até mesmo a certos desejos que despontam de vez em quando em nós mesmos. Hoje mesmo observava uma criança num supermercado que abria pacotes, jogava yogurtes no chão, mudava produtos de lugar, empurrava coisas da prateleira.
Enquanto isso mamãe-super-ocupada falava ao telefone e quando colocava um lampejo de atenção no peti chiava e fazia ameaças vãs. 

Com meus botões e ilhós eu pensava que o NÃO é aquela palavra que só tem sentido quando sentido colocamos nela, os limites existem não para punir, esse é o engano comum de muitos pais.
O NÃO, o Limite, o Toma Jeito, vir como punição por coisas que a criança aprendeu sozinha, sem monitoramento é um NÃO depreciativo, um NÃO que abominamos e portanto queremos distancia. 

Voltando ao limite, o limite não deve ser punição e como tanto odiada e incompreendida, desta forma vem misturada a magoa e ao aparente desamor.
O NÃO deve ser uma palavra de educação, tem que estar em diversos momentos e não somente quando algo estoura e cai no chão se quebrando em mil pedaços. 

Ele tem que estar numa estorinha para dormir, numa musica cantada num momento compartilhado, na educação conjunta com um animalzinho, fazendo uma hortinha em copinhos.
O NÃO tem que ser gêmeo siames do dessa-outra-forma-é-melhor e amigo do nem-tudo-dá-certo e ser acompanhado pelo sempre mas-a-mamãe-papai-lhe-ajuda, seguido do vamos-fazer-diferente. 

Esse NÃO não maltrata, ele orienta, ele não pune, ele educa, ele não causa aquela sensação de que não há espaço na vida dos pais para a criança, de que tudo que o pequeno faz é bobo, errado, torto, sem sentido.

Esse é um NÃO amigável, abrangente, ele não fecha a porta a nova ideia, a descoberta, ao aprendizado, a ampliação do espaço, ele como seta apenas indica melhoras formas de faze-lo. 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Esteja presente !!!



Um dia perfeito começa assim, não sendo ele mesmo, um dia inusitado, simplesmente isso, basicamente um dia em que algo foi subtraído ao invés de acrescentado.

Porque as vezes a felicidade plena esta no menos, o melhor pode até ser nada, nada de ansiedade, nada de insegurança, nada de impaciência, nada a provar, nada a combater.

Então pufff...você não ganhou aquele prêmio da loteria, não achou sua alma gêmea, não conseguiu escolher o mês para tirar férias no serviço, o filho continua respondão, o mês comprido demais para seu cheque especial, mas qual...pufff....você de repente esta feliz.

E ai vem uma urgência de aproveitar o dia, pois já não é como todos os outros, é um dia magico, meio perdido que foi em tantos dias de corre-corre, faz-faz, pensa-pensa, e quando você vê esta fazendo o mesmo de sempre, tudo igual.

Mas qual ? Não é igual !!! Pode ser a mesma tarefa, o mesmo horário, a mesma macarronada ao sugo, o mesmo shorts surrado, mas você não é aquela pessoa fechada, com vontade de ter uma bomba atômica e saber usa-la, você de repente é a criança que acorda embestada de felicidade só para viver.

E é assim, a matemática ainda continua um mistério, as pessoas são sim uma grande parte das dificuldades, o aquecimento global bateu o ponto junto com o desmatamento, os vizinhos não sabem ainda diferenciar musica de ruido, mas tudo esta lindo, lindo, lindo, pois você esta em você, deve ser isso, você esta presente.

Estar presente é algo muito poderoso, aguça os sentidos (mas não igual no medo), lhe dá novas perspectivas (mas diferente do estudo), lhe traz para o corpo (sem precisar da doença) e fortalece sua conexão com tudo a sua volta (sem se misturar, perder ou fragmentar), estar presente é estar inteiro.

Dai você se pergunta o que é preciso fazer para estar assim, todos os dias, dia todo !!!

Será que é aquela nova meditação-oração-remédio-decreto-yoga-canto-alimento-energia??

Será que foi um anjo-amigo-técnica-espirito-tarefa-lugar-determinação divina ????

Começa a querer despontar um medo de perder seu dia feliz-que-é, dá medo até de se mexer e passar tudo (pare mundo !!!).

Mas ai você percebe que esse estar presente, a felicidade que vem disso, é somente a permissão de você ser você mesma/o, sem a necessidade da perfeição, salvar o mundo, entender tudo, fazer aquilo que nunca foi feito mas é preciso.

Sem cobrança, é isso, você esta se permitindo ser uma pessoa sem a obrigação da família, sem aquela pecha da resolve tudo, a pessoa que existia antes de ser orientada-doutrinada, meio criança, meio vazio.

Então pega seu pão com manteiga esquentado na chapa, abre a revista de bobagem, liga a tv e o radio, saia cantando pela casa.

Ou converse com essa pessoa que esteve por ai tanto tempo, ao lado, lhe esperando, absorva seu conhecimento, sem pragmatismo, questionamento, apenas a observe e curta sua felicidade.

Estar presente é apenas existir, sem precisar de outros predicados

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

PRISIONEIRAS


É na mente que a burca esta, muito mais do que o corpo ela cobre a idéia da pureza de existir, do corpo espirito livre, sem maculas.

Um corpo que nunca foi diabólico ou perigoso mas assim de tornou pela ganancia, maldade, interesse e falsidade humana.

É lá, dentro de antigos livros, escritos por pessoas que desejavam dominar terras, tribos, intenção, força e a liberdade que a mentira surgiu.

Escrito por homens manipuladores e cientes que suas palavras seriam sempre respeitadas e obedecidas se viessem envoltas com o mistério, com a fé, pregadas numa crença que aterroriza e ao mesmo tempo bonifica, mata e promete vida eterna.

E as mulheres, que a milhares de anos são estigmatizadas por algo que não é ruim, como a sensibilidade, beleza, sensualidade, capacidade de amor, união e entendimento, foram mais uma vez atreladas, como bestas feras, a conceitos mudanos e vãos.

As mulheres passaram a carregar o mau do mundo em seus corpos, em seus desejos, na sua simples consciência, viraram seres necessários mas odiados, que precisam ser detidas e dominadas pois eles sabem é dela e não deles que vem a luz.

Então pouco a pouco a mulher é levada a condição de objeto, de consumo, de prazer, de perpetuação da especie, empregada, serviçal, saco de pancada, culpada pelas dores e enganos do mundo.

E passa a aceitar sua prisão, sua meia vida conduzida, como unica opção, procura inclusive beleza nessa limitação, tenta justificar a injustiça, entender por vias tortas aquilo que é claro, mas não pode ser dito.

A mulher aceita tudo, uma pancada, uma piada, ser apedrejada, ser usada todas as noites e não ter prazer, servir alguem e apesar disso ser sempre desvalorizada, ser abandonada e sozinha cuidar de tudo.

A mulher aceita tudo e ainda acredita que seu valor é dado pelo homem, pai, companheiro, irmãos, primos, marido, avô, professor, ela entrega sua vida, seu coração e confiança a esses seres, sem perceber quão desorientados eles são.

Vestimenta de pesar, da morte da pureza original, da liberdade, seja no oriente ou no ocidente, todas usamos burca, ela esta em nossas mentes.

domingo, 23 de janeiro de 2011

INSPIRAÇÃO e TRANSPIRAÇÃO


Uma vez eu encontrei Deus remendando um buraco numa ruazinha aqui do meu bairro, ele estava cantando enquanto trabalhava e parecia muito satisfeito em estar "pegando no pesado" mesmo por tão pouco.

Depois o vi no centro da cidade, vendendo pé de moleque numa grande bandeja que segurava sobre a cabeça, já estava diferente, com outra roupa, etnia, de diferente idade, mas cada vez que oferecia seu produto afirmava - Vai lhe mostrar que a vida é boa !

Dai eu fui comprar um colher de pau numa pequena loja e não é que Deus estava na galeria ao lado, cortando o cabelo e fazendo a barba para quem precisasse, usava uma saia godê de flores e tinha perfume de gardênia.

E descendo até a rodoviaria para ver o preço da passagem de onibus para BH novamente lá estava o polivalente Deus limpando o banheiro, assobiava uma musiquinha daquelas que grudam na orelha e nos fazem sorrir o dia todo.

Depois subindo a pé para casa novamente o encontrei numa esquina, num farol emperrado, dando orientação no transito, de uniforme de guarda municipal.

Dai perguntei - Mas não era você que estava tampando um buraco, vendendo doce, cortando cabelo e limpando banheiro, você é Deus ?

E ele/ela alheio a tudo foi me pedindo para atravessar na faixa, segurar a bolsa com cuidado, ir logo para casa e que estava ocupando/a trabalhando, que loucura era essa de ser Deus !

Poxa Deus, eu não acredito em você, não acredito que mora no céu, numa igreja, dentro de uma idéia, não aceito que ama alguns e dana outros, não entendo porque deixa certas coisas na mão de idiotas, irresponsáveis e ganaciosos.

Queria lhe dizer isso, mas dai percebi que nem mesmo você se acredita, se vê, reconhece e se entende como tal, mas certamente esta aqui, ali, em todo canto, trabalhando, de tantas formas, em tanta gente.

domingo, 2 de janeiro de 2011

A REINVENÇÃO DO EU

Quando uma pessoa é autentica ?

O que é autenticidade ?

Somos educados para sentir, pensar, avaliar, baseado numa serie de idéias e valores que já estão em nossa sociedade, localidade, povo, familia, a centenas de anos.


E temo a carga genética, a informação dos cromossomos dos pais que se unem e definem nossas caracteristicas como individuos.
Não somos paginas em branco, livres, nunca fomos, não somos autenticos.

Sera que o que chamamos autenticidade é uma derivação das poucas escolhas que fazemos sem aprovação ou entendimento dos outros ?

Seria autenticidade a profunda liberação das amarras sociais, o proximo passo no crescimento, como o fogo ou a invenção de instrumentos, a evolução ?

Viria por uma revolução ? Envolveria destruição ?

E como não temos uma base realmente ampla e não tendenciosa de informações para nossas escolhas, tudo vem entremeado de emoções e conceitos, parecemos fadados a aceitar o que nos permitem.

Como seria se pudessemos conhecer tudo do mundo ? Sem pressões ou identidade prévia?

Já li que uma criança nasce autentica, ampla, pura, simples, inteligente, e que a familia e a escola só faz torna-la burra, agressiva, limitada.

No entanto vemos claros traços de egoismo e crueldade entre as crianças, que são geralmente modaldos ou reprimidos senão direcionados pela educação.

Essas atitudes da infancia demonstram que estamos muito mais próximos do nosso aspecto animal, a luta pelo território, pela posse, alimento, conforto e poder.

Coisa que continua na adolescencia e na vida adulta com um verniz que não faz parecer que estamos brigando por uma perna de zebra ou mijando nas arvores para marcar território.

Ridicularizamos outras pessoas no trabalho ou em familia mas não vemos isso como furor do instinto animal, porque não estamos pelados, numa selva, cravando os dentes diretamente na carne, mas continua sendo um confronto.

Ainda continuamos na selva ? Ou nunca saimos dela ?

Um mundo de tijolos, pseudo controle, aparelhos sofisticados nos fazem acreditar que estamos acima e além dos nossos irmãos animais, longe da vida selvagem, perigosa e imprevista.

E então a queda da bolsa faz perder o emprego...controle, proteção, tudo ilusão ?

A demarcação do território não é mais feita por cheiros ou urros, ao invés disso temos chancelas para dizer se somos ou não adequados e se podemos e merecemos circular pelo nosso próprio planeta.

Pedaços de terra são nomeados, pertencem a um grupo, não exatamente aqueles que lá estavam a centenas de anos, são tomados em guerras, e os "vencidos" são empurrados para fora pelos "fortes" que passam a se dizer legitimos donos.

Então quando uma criança toma um espaço num parquinho, uma balança, um brinquedo, e queremos que ela ceda e saiba dividir a grande pergunta é como esta estruturado isso na nossa sociedade.

Ela é assim ? É uma sociedade igualitaria, comunal, participativa ?
Reconhece, admite e oferece a todos o mesmo direito, oportunidade e poder ?

Que mentiras então introduzidas na criação ? O que mais ?

Como pode ser autentica uma pessoa que recebe do primario até a faculdade uma educação de dados, de pouca aplicabilidade, uma educação com um modelo pronto e com um unico objetivo ?

Somos produtos que fazem produtos e adquirem produtos, somos avaliados e valorados pela quantidade e qualidade dos produtos que temos, pela constancia e forma do consumo.

Nosso valor é semelhante ao de uma maquina, então eu posso ser mais ou menos que uma maquina Singer de overlock e você uma sanduicheira.

Às vezes somos menos, menos que um copo de agua, uma tampinha, menos de uma fatia de pão e isso vem de uma ação deliberada, calculada, poucos participam dos ganhos, lucros, direitos.

Quem determinada o que produzir, quanto, de que forma e para quem também não somos nós, apenas produzimos e consumimos.
E quando compramos achamos que fazemos isso porque precisamos ou queremos, mas o que consumimos esta fadado a ser descartado, substituido, obsoleto, ineficiente, pois não traz real acrescimo.

Desde o nascimento dizem quem você deve ou não ser, o que precisa fazer e onde, o que deve sentir e como, e o que precisa ter para ser feliz.
O gado tem mais autenticidade, os gatos, as galinhas.
Os passaros e mosquitos podem ter uma vida curta, curtissima, mas são mais autenticos.

Os animais recebem um conhecimento para serem quem são, não para alguma outra coisa imaginaria que vai tornar suas vidas miseraveis.

Isso não quer dizer que a vida é facil para eles, mas ao menos são o que são, enquanto nós não sabemos mais quem somos, o que precisamos, o que queremos e até quando manteremos essa farsa.

Então volto a questão inicial - como ser autentico ? O que é um ser humano autentico e como fazemos para resgatar algo de nós ?