terça-feira, 31 de agosto de 2010

Alfa & Omega



Sou descrente de deus, mas não descrente da vida, acredito no poder da escolha, na capacidade de analise, na auto evolução.

Não creio num ser magico-mítico-distante-todo-poderoso que me criou a sua semelhança e me exorta a cumprir um papel, observar preceitos, obedecer suas regras.

Não serei recompensada pela bondade e nem castigada pela maldade, não sou observada, julgada ou controlada por um olho que tudo vê, onipresente, e nem confortada ou protegida por um pai-mãe astral.

Sou um aglomerado de células que pulsam, crescem, fazem trocas, inteligentes ou néscias, animal com pretenso raciocínio.

Meu corpo recebeu um nome ao nascer, conceitos, um treinamento de identidade, em alguns momentos me iludo com a materialidade, confundindo o personagem com a capacidade.

Em outros momentos, consciente da tolice do ego, observo minha fusão com o planeta e o universo, o vegetal do alimento, o ar compartilhado por todos os seres, a água vinda com a memória da terra, o sol, centro da galaxia.

Maravilhada percebo que somos um único vivente, me vejo espalhada em outros seres, lugares, formas, funções, tenho diversos nomes e inúmeras experiencias.

Ultrapasso o mito e reconheço o verbo, sou a forma, a imagem, a semelhança, não preciso de uma crença para meu próprio reconhecimento, estive em tudo e estarei além do tempo e espaço.

Sou descrente de deus, mas não descrente da vida.

Saindo das grandes esperanças e construindo pequenas certezas


Sempre que vejo notícias assombrosas e terríveis na tv, tsunamis, queimadas, furacões, mais uma guerra que se arrasta e outra que começa, desmatamento desmedido, fome, violência gratuita, poluição, intoxicação do meio ambiente, consumo irresponsável, vou até meu minusculo quintal e numa garrafa velha eu planto uma semente de jaca ou caju ou laranja.

Por diversas vezes, de diversas pessoas ouvi que a jaqueira não vai resolver todos os problemas do mundo e que além do mais ela demora mais de 20 anos para ser produtiva, e que talvez eu nunca a venha a provar dos seus frutos.

Eu sei que para muitas pessoas é estranha e até assombrosa a ideia de que o futuro é uma construção de todos, e não somente das pessoas envolvidas naquela noticia, naquela parte do mundo, mas que eu mesma, daqui de longe, posso estar fazendo algo, posso estar optando por um caminho diferente.

Eu sou uma só pessoa, mas meus gestos podem ser multiplicadores, 10% das jaqueiras que agora planto podem estar no futuro alimentando alguém necessitado, sendo a sombra num mundo super aquecido, segurando a pouca umidade do solo, seu fruto pode resultar num sub produto importante, talvez seja remédio para tanta coisa.

A mim não importa a falta de conhecimentos especiais, ações direcionadas por cientistas, ecólogos, educadores, grandes mentes, importa o que a pessoa formiguinha esta fazendo, são essas pessoas que cavam a vala que engole o mundo, os pequenos gestos mal pensados e tão mal direcionados.

Então em vez de cortar uma arvore eu planto, em vez de comprar mais um objeto eu reciclo, em vez de comprar dezenas de coisas que apenas juntam pó e usam do recurso natural para serem feitas eu aprecio a simplicidade.

Os homens da ciência dirão o que será preciso fazer, mas sera o homem comum que terá que faze-lo.

A pilula dourada da felicidade



Muitos procuram a felicidade, mas parece que poucos realmente a obtem.

Nessa necessidade de completude vamos em busca de um par amoroso, um bom emprego, compramos uma casa, um carro, roupas bonitas, viajamos, estudamos, fazemos esporte, temos filhos, casamos.

Criamos todo um elaborado movimento para satisfazer nossas carências e desejos.

Trabalhamos, juntamos e gastamos dinheiro comprando tv, mobilia, um bom computador, mais um celular de ultima geração, livros.

No tempo livre vamos ao cinema, teatro, restaurantes, tiramos férias na praia, tentamos ter uma vida mais saudável e natural, então comemos alimentos integrais, meditamos, praticamos yoga, tai chi chuan, tratamos nosso corpo com homeopatia, ervas, acupuntura.

Vamos a igreja, grupo de cura, mosteiro, lemos a biblia, livros sagrados, estudamos o conhecimento antigo, fazemos jejum, paramos de comer carne, doamos dinheiro para a caridade, entramos numa religião ou filosofia, nos tornamos de jesus ou de buda ou maomé, frequentamos o daime, fazemos oferenda a divindades.

Tudo que estamos fazendo é uma tentativa de encontrar a felicidade verdadeira e evitar o sofrimento.

Então quando alguma coisa não sai conforme nosso plano ou quando não traz o beneficio e a sensação que esperavamos culpamos essa coisa, culpamos o objeto exterior do nosso desejo, e vamos em busca de outra coisa, como se existisse a "pilula dourada da felicidade".

Não há nada de errado em procurar relacionamentos, ter bens, fazer planos, o problema é que acreditamos que essas coisas são a causa da felicidade, porém elas não poderão ser, simplesmente porque não perduram.

Tudo muda constantemente e um dia desaparece - nosso corpo, nossos amigos, todas as nossas posses, nossa familia, os bens materiais - e nossa dependência a essas coisas impermanentes acabam, com o passar do tempo, nos custando desapontamento e dor, e não a satisfação.

Estamos sempre experimentando a felicidade com coisas exteriores, porém isso não nos liberta dos nossos problemas, é uma felicidade de qualidade inferior pois é inconstante.

Isso não significa que devemos abandonar tudo e todos, pelo contrário, o que precisamos é abandonar as falsas concepções e expectativas irreais sobre a capacidade dessas coisas e pessoas nos fazerem plenamente felizes.

A raiz do nosso problema esta na visão de que existem coisas boas ou más, feias ou atraentes, certas ou erradas, adequadas ou insatisfatórias, essa idéia delineia todas nossas relações com o mundo.

Raramente percebemos que o modo como vemos as coisas não correspondem ao que elas são de fato, a nossa imagem da "realidade" é exagerada, truncada, setorial, e as boas e más qualidades que vemos são criadas e projetadas pela nossa própria mente.

Mas existe uma felicidade duradoura, estável, e todos possuem o potencial para experimenta-la, esta felicidade está dentro do nosso próprio Ser, faz parte inerente da consciência desperta que sabe diferenciar as coisas exteriores de si mesmo.

Independente do caminho que tomamos agora tudo irá acabar, nada do que esta aqui, a nossa volta, ao nosso lado, se manterá, nossa história poderá ser contada por outros mas não eternamente vivida por nós.

Quando fazemos escolhas baseadas na totalidade não procuramos mais a satisfação imediata, a recompensa eterna, a muleta do amparo, a promessa futura, o apoio exterior, o prazer inconsequente, o status material, a perfeição fisica, deixamos de ser seguidores, adoradores de icones e nos tornamos livres e completos por si mesmo.

sábado, 28 de agosto de 2010

O mundo precisa de heróis !!!!




Nessa semana, eu e meu pai que estava hospitalizado, lembrávamos fatos marcantes das nossas vidas, tanto no aspecto positivo quanto negativo. 

Após 76 anos de experiências ele se mostrava totalmente avesso ao contato humano, afirmando que os homens não eram nada mais além do que "animais selvagens", prontos a matar, agredir, obter um ganho mesmo que a custa da perda de alguém necessitado, citava a politica, a guerra e outras tantas coisas que diretamente enfrentou. 

Com 49 anos eu podia compreender como essa liga de pensamento tinha se formado, ela era a junta da observação de toda a situação brasileira e global, por todos esses anos, e mais ainda, era a feia constatação de que os seres humanos pareciam não se importar com nada além do que sua própria vida física. 

Ele se lembrava que, quando garoto, se alguém gritasse na rua PEGA LADRÃO ! os vizinhos saiam rapidamente das casas, tanto para ajudar o necessitado quanto para correr atras do meliante. 

Agora, ele me dizia, não adianta gritar nem FOGO, FOGO, ninguém se preocupava mais com os problemas alheios, cada um cuidava de forma apavorada de si mesmo. 

Me lembrei de um artigo que uma vez li numa revista em que o escritor tinha visto pela janela do seu apartamento em SP uma pessoa ser assaltada, o que mais o espantou é que nas lojas em frente ao lugar que a pessoa foi assaltada tinha inúmeras pessoas, quase 30, que ficaram observando impávidas a situação. 

Naquela momento ele me perguntou como eu agiria, eu lhe disse que se estivesse nas lojas eu certamente gritaria, sairia, incitaria todos ao ataque, qualquer coisa, menos ficar parada vendo o sofrimento alheio. 

Me parecia absurdo quase 30 pessoas ficarem paradas, amedrontadas, diante de um único assaltante. ONDE UM É MAIS FORTE DO QUE 30 ? 

No MEDO ele me disse, no medo de morrer, no medo de ficar aleijado, no medo de perder algo que julga tão importante, todos se acuam no medo, buscam uma desculpa congruente para não agir, não tomar partido, não reagir, não se posicionar em favor daquilo que é justo, correto e acaba dando força a injustiça, a maldade, ao bandido. 

Eu não quero ser acuada pelo medo, somos pretensos seres pensantes que tem o poder de escolha, analise, ponderação, eu não quero ser apenas um animal apertado num canto, de olhos fechados, torcendo para acabar logo com aquilo. 

Então uma frase dele caiu entre nós - O MUNDO NÃO PRECISA DE HERÓIS ! TODOS QUEREM APENAS SOBREVIVER ! 

Eu renego essa ideia, acho que agora, mais do que nunca, a todo momento, de toda forma, seja com que consequências forem - O MUNDO PRECISA DE HEROIS ! 

Precisamos salvar não apenas nosso corpo, pagando o preço da covardia, precisamos salvar nossas almas, nossa dignidade, nosso senso de humanidade, somos todos da mesma especie. 

Enquanto 30 forem mais fracos do que 1 o mundo continuara na mão daqueles que o destroem por ganancia, corrupção e ignorância. 

O MUNDO PRECISA DE HERÓIS !!!