segunda-feira, 12 de julho de 2021

Permissão

 



Hoje me deparei novamente com a insidiosa culpa de estar feliz e tranquila num momento de tantas perdas, enfrentamentos, dificuldades e desgraças, instituídas ou novas, como o que vivemos agora.

Ali na minha experiência de fazer o pão de queijo, misturando a massa, queijos diversos, azeite, leite, me vi de repente derramando um tanto do vinagre da tristeza, do não poderia me sentir assim.

Tal situação não é nova, devo esclarecer, me acompanha desde menina, sempre nos meus melhores momentos, quando sou confrontada pela lembrança das misérias do mundo e perco meu sorriso, meu prazer legitimo.

Mesmo não sendo eu, diretamente, a causadora dos dissabores da humanidade, apenas pelo fato de não ser uma ativa participante do conforto imediato, das resoluções dos conflitos, me sinto muito mal.

Por certo não posso agora estar sendo essa pessoa que leva o pão, mal consigo andar 100 metros nesse momentos, nem contribuir financeiramente para a causa, visto que, como tantos, juntos os poucos para fazer algum.

Posso agora exortar quem conheço a se unir, moldar uma liga de super heróis gente comum, as mesmas que sempre fizeram todo o trabalho de apoio e acalento, mas pouco consideradas.

No entanto me falta aquela força que é composto essencial da argamassa da vida construção, a fé, a confiança inabalável, não necessariamente em mim, em planos, em sonhos, mas no próprio ser humano.

A muito tenho derrubado esse fel que trago em mim nos momentos felizes e especiais, não permitindo que eles sejam tal como são, bons augúrios, entremeados na vida sobe e desce, impermanente.

Ensina a medicina chinesa tradicional que o amargor de fora ajuda a controlar o acre interior, talvez por isso goste tanto de folhas, legumes e raízes amargas, tal como escarola, jiló, ruibarbo, quinino, chicória.

No entanto nenhum controle alimentar consegue realmente romper o ciclo, apenas suavizar seus efeitos, e na falta de doçura intima acabo salgando todos os pratos da vida, mesmo as belas sobremesas.

Então enquanto colocava a massa na forma decidi me permitir hoje estar feliz, regozijar da minha boa sorte, do presente que a vida esta me oferecendo, apenas por estar viva.

O que adianta tornar essa vida uma festividade lúgubre mais do que já se apresentam os fatos do mundo?

Tal qual uma criança pequena sentada a mesa, despreocupada pelo esforço da cozinheira, pelas horas de empenho por obter o alimento, por todas as questões do mundo adulto, me pus a sorrir, olhando meu pão de queijo.





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