segunda-feira, 12 de julho de 2021

Saturação





Cada pessoa tem sua própria medida de limite, chegando ali o copo esta cheio, derramar nem pensar, dá um trabalho insano limpar.
É melhor parar antes de chegar nos finalmente,mas geralmente não paramos porque não sabemos identificar essa saturação. 

Para complicar cada um tem seu placar, seu termômetro interno, aquele ponto em que começa a pegar na carne e a mente entra em ebulição.
E algumas vezes nos fiamos pela resistência dos outros e ai quebramos a cara.
Também não percebemos que a coisa é acumulativa, pequenos pontos que foram sendo ultrapassados, um aqui sem querer, outro ali por dever e mais outro pela necessidade.
Nos enganamos achando que temos uma blindagem melhor diante dos problemas e desfavores do mundo. 

Então, não mais do que de repente desgringola tudo, mistura de insonia com tristeza, duvida com falta de vontade de tomar banho ou comer ou ver os amigos.
Mas nada foi por acaso, esse momento chegaria porque tantas coisas não foram cuidadas, sanadas, e ai não tem força que dê conta do recado, é hora de parar. 

É, você passou no sinal fechado e encontrou um caminhão de frente, foi perda total, não tem martelinho magico que desempene sua fachada e nem seguro que pague todo o prejuízo.
Agora reconheça que é precisa ajuda, guincho, abraço de amigo, dormir mais cedo, se alimentar melhor, cuidar daquelas coisas importantes que ficam sempre em terceiro plano esperando a vida dar jeito. 

Já sentiu isso ? Uma mistura de cansaço existencial com saturação ?
E quanto mais você forçar a estar inteira ali, no trabalho, na festa, no fim de semana com a família na praia, no teatro, na escola, no papo com os amigos, mais resistência vai sentir em estar ali.
Você deveria estar na cama, ou sozinho numa praça, apenas respirando ar puro, bem quieta e não fazendo força para sair do lugar, não resista, não persista, entregue os pontos. 

O celular toca e você não atende, o dvd que alugou do jeito que veio ficou, musica lhe irrita, esquece o sanduba pela metade e vai fazer outra coisa, não tem vontade de trocar de roupa, sair, paciência para ouvir.
Aquele cotidiano antigo que você participava não tem como voltar, é o mesmo que lhe deu esse desgaste, não é nele que você irá se sentir bem, é procurando uma nova forma de fazer novas coisas. 

Os consolos conhecidos não dão mais certo, ligar a tv nem pensar (só desgraça), entre amigos/as prefere o silêncio (a conversa é sempre a mesma), você não quer mais tudo aquilo que lhe garantiram que traria a felicidade (bando de mentirosos !!!).
Pois é, pare de procura erros e errados e procure acertos, caminhos não trilhados, coisas que não supunha que poderiam ser boas. 

Respeite, respeite isso, você chegou ao limite, não tem como voltar e ter aquela felicidade leve e fácil que parecia ter antes, agora você quer respostas, quer conhecimento, quer a verdade.
Isso nunca é fácil, porque os caminhos já trilhados são limitados e você é uma pessoa que esta crescendo por dentro e realmente ia ter essa hora que tudo ia quebrar, é a expansão. 

Não tem nada errado com você, é que as coisas mudam, se chama evolução, mudam os gostos, os motivos, parece que algo muda em cada parte do seu corpo.
Agora algo estranho ou poderoso precisa ser feito, como quebrar uma barreira ou um paradigma, algo que dá medo e você vai perder seu chão.

Muita paciência nessa hora, a vida não tem garantia, ninguém nasce com bussola e manual de instrução, cada ser tem um caminho e uma visão.
E já pensou se a sua for voltar 500 anos no tempo ou realizar algo que ninguém jamais imaginou, negar coisas que são consideradas importantes ou mostrar o valor de outras que são consideradas lixo? 

Aconselhamento, terapia, grupo de apoio, pode ser que nada disso dê certo porque você não quer força para se enquadrar, você não quer voltar para o mundo tal qual é, quer outra coisa.
Um mundo mais justo, humano, correto, bonito, pacifico, respeito, ética, valorização da vida, calma, entendimento, beleza, espaço, você tem muitas palavras mas não mapas. 

É preciso parar de rodar na mesma direção e abrir esse circulo, alias voar, chega de ser apenas limite, corpo físico, nome, idade, força de trabalho, você quer ser você mesmo, em todo seu potencial.
É contundente, não dá para fugir disso, aceite seu novo momento. 

O copo esta cheio, é melhor parar tudo, se recolher, pensar, sentir, chorar se for preciso, rir mesmo sem motivo, jogar a raiva e frustração para fora, guardar a beleza lá dentro.
Pare, descanse, repense a vida, mude, aproveite e aceite sua nova condição.
Daqui a pouco você volta para algum lugar, até a próxima saturação.

Permissão

 



Hoje me deparei novamente com a insidiosa culpa de estar feliz e tranquila num momento de tantas perdas, enfrentamentos, dificuldades e desgraças, instituídas ou novas, como o que vivemos agora.

Ali na minha experiência de fazer o pão de queijo, misturando a massa, queijos diversos, azeite, leite, me vi de repente derramando um tanto do vinagre da tristeza, do não poderia me sentir assim.

Tal situação não é nova, devo esclarecer, me acompanha desde menina, sempre nos meus melhores momentos, quando sou confrontada pela lembrança das misérias do mundo e perco meu sorriso, meu prazer legitimo.

Mesmo não sendo eu, diretamente, a causadora dos dissabores da humanidade, apenas pelo fato de não ser uma ativa participante do conforto imediato, das resoluções dos conflitos, me sinto muito mal.

Por certo não posso agora estar sendo essa pessoa que leva o pão, mal consigo andar 100 metros nesse momentos, nem contribuir financeiramente para a causa, visto que, como tantos, juntos os poucos para fazer algum.

Posso agora exortar quem conheço a se unir, moldar uma liga de super heróis gente comum, as mesmas que sempre fizeram todo o trabalho de apoio e acalento, mas pouco consideradas.

No entanto me falta aquela força que é composto essencial da argamassa da vida construção, a fé, a confiança inabalável, não necessariamente em mim, em planos, em sonhos, mas no próprio ser humano.

A muito tenho derrubado esse fel que trago em mim nos momentos felizes e especiais, não permitindo que eles sejam tal como são, bons augúrios, entremeados na vida sobe e desce, impermanente.

Ensina a medicina chinesa tradicional que o amargor de fora ajuda a controlar o acre interior, talvez por isso goste tanto de folhas, legumes e raízes amargas, tal como escarola, jiló, ruibarbo, quinino, chicória.

No entanto nenhum controle alimentar consegue realmente romper o ciclo, apenas suavizar seus efeitos, e na falta de doçura intima acabo salgando todos os pratos da vida, mesmo as belas sobremesas.

Então enquanto colocava a massa na forma decidi me permitir hoje estar feliz, regozijar da minha boa sorte, do presente que a vida esta me oferecendo, apenas por estar viva.

O que adianta tornar essa vida uma festividade lúgubre mais do que já se apresentam os fatos do mundo?

Tal qual uma criança pequena sentada a mesa, despreocupada pelo esforço da cozinheira, pelas horas de empenho por obter o alimento, por todas as questões do mundo adulto, me pus a sorrir, olhando meu pão de queijo.