A cura tanto nos parece merecimento quanto empenho, as vezes não temos oportunidade e espaço para ela, seja financeiro ou físico, as exigências da vida moderna, tudo pode nos adoecer, pouco parece nos curar.
Então sentada no quintal, esquentando meu corpo já passado por muitos anos, sendo agora gente que aprecia o calor morno do sol de outono, penso em tudo que já doeu, o tanto que me adoeci e fui adoecida, no corpo e emoções.
E me surpreendo com o tanto que também já me curei, com ou sem esperança, com ou sem entendimento, com ou sem esforço, sozinha ou acompanhada, grata ou desesperada, irada ou consolada, de pouco em pouco.
Magoas que se transformaram em farpas, travas que se formaram por mal hábitos, o continuo apuro do tempo, como um martelo, quebrando a consistência da carne, que fende e arde, adoecendo e dando trabalho.
Trabalho, se manter são e em pé dá trabalho, mas existe outro ponto, o desleixo que tomamos para nós, como tarefas não concluídas, deixadas para depois, quando a vida pode ser mais calma ou controlada, esse traz a dor.
E a dor, como parceira de quadrilha de festa junina, vem acompanha é claro por um desarranjo na forma original que cada um trouxe, que por vezes já vem torta, como uma porta para a doença visitar frequentemente, como em mim.
Então ganhamos dois parentes, muito descontentes e insidiosos, que afinal nos colocam no lugar daquele que um dia não sera mais nada, voltara ao pó do chão, puro ego em decomposição, nos lembrando desse fato.
Mas agora, sentindo o calor reconfortante desse sol, vida pulsante, me sinto abençoada, não por um deus ou crença, mas pela vida que vai e volta, como o sangue circulando nas minhas veias também cansadas.
E penso que conheci a vida, perdida e achada, destruída e reformada, dolorida e bela, aquela que esta agora aqui, nos pés, no cérebro, no coração, me chamando ao deleite desse momento e também clamando atenção.
Agora a cura não me parece nada do que possa ter imaginado, um hiato ou esperança futura, benção ou magia da ciência, mas sim como oportunidade pura, de aprender mais um tanto de tudo e me transformar em muitos.